Nota Prévia: o conteúdo deste post não pretende condenar ou censurar comportamentos. Pois se o fizesse estaria (também) a condenar e censurar os comportamentos de quem o escreveu.
Nas últimas semanas existe uma questão que me tem atormentado (no bom sentido). Desde que fui à apresentação do livro de um amigo meu. Existe uma frase que não me sai da cabeça"Nós somos muito mais do que aquilo que fazemos".
Felizmente, tenho a oportunidade de "conhecer" novas pessoas quase todos os dias. Por vezes, passo várias horas à conversa com elas, mas quando me despeço, fico com a sensação que, ter falado com aquela pessoa ou com um desconhecido (que estava sentado ao fundo da sala) foi igual.
A conversa resumiu-se a um conjunto de banalides e trivialidades. Passámos a maioria do tempo a falar do que nos rodeia e não de nós próprios. Não pretendo que essa pessoa me conte a sua história de vida. Se o fizer, o mais certo é arranjar uma maneira de me "pisgar" rapidamente.
Mas uma coisa que me "irrita" é a conversa tipo "guião":
- Olá eu sou a/o ...
- Olá eu sou o ..
- O que é que fazes?
É impressionante, como toda a gente faz esta 2ª pergunta!
Será que não conseguem falar connosco sem saberem a nossa profissão? Precisam de saber a nossa profissão para quê? Curiosidade estatística? Para nos enquadrarem? (rotularem?)
Porque é que a 2ª pergunta que nos fazem é quase sempre "o que é que fazes?"
Quando respondo "sou informático" as pessoas ficam mais descansadas... pois agora já sabem que podem falar comigo sobre o windows xp (algo que eu não percebo nada, nem quero perceber).
A pergunta seguinte é: "e onde é que trabalhas?". Os que conhecem a área exploram um pouco mais... "és programador?". E a conversa continua... até ao momento em que os meus interlocutores descobrem um ponto de ligação entre o meu trabalho e o seu...
... e começam a falar do seu trabalho...
... depois recuam uns anos e começam a falar de quando andavam a estudar...
... a contar as histórias das semanas académicas ou do desespero dos professores...
... que moraram naquela rua e que agora moram na outra, porque é mais rápido para ir para o trabalho...
Agora sim, sinto os meus interlocutores mais descansados... conseguiram arranjar um tema de conversa... não que seja um assunto estimulante... mas é agradável, porque assim não estamos em silêncio.
Por vezes, a meio da conversa alguns (poucos) dizem-me "Não me pareces nada informático".
Eu penso "porque será? Será porque eu sinto que sou um pouco mais do que a resposta à tua 2ª pergunta?"
Para terminar deixo-vos um excerto de um poema desse meu amigo, que sintetiza o que eu penso:
«Não quero saber o nome da tua rua
nem o teu estado civil
nem sequer o teu nome
ou qualquer tipo de estudos que tenhas feito.
Quero conhecer-te!»
(...)
sexta-feira, maio 2
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Parabéns, este post está excelente!
Ao ler revi muitos dos meus pensamentos, daqueles que ultimamente me fazem não ter vontade de 'conhecer' gente nova...
Muito bom post!
Compreendo perfeitamente esse teu sentimento. Eu, no entanto, tive recentemente uma experiência surpreendentemente diferente. Entre Fevereiro de 2007 e Março de 2008 frequentei um curso onde conheci pessoas novas mas não da forma que descreves. Houve pessoas com quem tive interessantes diálogos durante meses sem saber sequer o nome da pessoa, muito menos a profissão a idade ou o estado civil. Só quando já se tinham criado laços de verdadeira empatia a necessidade obrigou à pergunta: “Como é que te chamas?” e apenas porque queríamos de facto chamar a pessoa para conversar com ela e não sabíamos o seu nome.
Naquele espaço tive a oportunidade e o privilégio de conhecer as pessoas pelo lado de dentro e não pela “carapaça”. Creio que o meio, o contexto em que conhecemos as pessoas pode condicionar bastante o modo de interacção que se estabelece.
como já tive oportunidade de te dizer pessoalmente, prefiro muitas vezes falar de trivialidades (que por vezes até diz muito da pessoa) e no final do encontro não saber onde trabalha.
vê lá que já nos conhecemos há ANOS e só no outro dia no vertigo é que me explicaste tim tim por tim tim a tua evolução profissional.
bjs!
Enviar um comentário