segunda-feira, agosto 4

Carta para a Rua José Vensceslau d'Oliveira

Querida ...,
«Espero que te encontres de saúde, nós por cá todos bem». Escrevi esta frase vezes sem conta.

Se releres as minhas cartas, vais reparar que todas, iniciam desta forma.
Não foi por mal, apenas desconhecia outra forma de começar uma carta. Foi como me ensinaram. E ensinaram-me, porque, eu te queria escrever.
Hoje, não escrevo essas palavras.
Elas já não fazem sentido.
Escrevo-te, apenas, para te contar, que ontem visitei aquele local que foi a tua terra. Mas não te fui visitar.
Mesmo que quisesse, sabes bem que não poderia, porque hoje existe algo que nos separa.
Atravessei aquela que foi a tua rua.
Parei junto ao portão da tua casa, em silêncio, a escutar o ruído dos teus passos a percorrer a passadeira de plástico, pousei a mão na tua porta e senti o toque macio da tua mão, debrubei-me sobre as tuas plantas e senti o odor do pó-de-arroz que usavas. Espreitei pela tua janela e vi, pela última vez, as horas no teu relógio côr de pêrola pousado sobre a mesa.
Tirei o último rebuçado que estava no pote encarnado e prossegui a minha viagem.

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